Antes de começar este texto propriamente dito vale aproveitar o espaço que o blog permite e acabar com um dos mitos do jornalismo: a imparcialidade. Apesar da busca incessante pela verdade e por apontar os dois lados da história, todo profissional sempre abordará um tema com um olhar embasado em sua trajetória e seu repertório.
É bom também deixar claro que a minha vivência com uma bibliotecária – que ama seu trabalho – foi o mote para esta defesa em público de uma profissão estigmatizada e tão mal interpretada.
A capa da revista Época, de 21 de fevereiro, trazia a seguinte manchete: “Seu trabalho tem futuro?” com o subtítulo: “As profissões condenadas a desaparecer – e aquela que resistirão às novas tecnologias”. Mas, ao ler a matéria em si, não havia nenhuma informação sobre as profissões que poderiam desaparecer e sim um panorama daquelas que sobreviveriam ao avanço da tecnologia.
Para minha surpresa, um gráfico mostrava a relação das profissões que dificilmente desaparecerão e aquelas que estão com os dias contados. Na ponta da lista – prestes a desaparecer – estão: técnico em matemática, bibliotecário e operador de telemarketing com 99% de ameaça de não existirem mais.
Baseada no estudo americano “O futuro do emprego”, de Carl Frey e Michael Osborne, a matéria não diz claramente o por quê estas profissões tendem a desaparecer, mas aponta critérios para que terapeutas e psicólogos, por exemplo, não se preocupem com o futuro.
Segundo o estudo, “máquinas são menos capazes de superar: percepção e manipulação, inteligência social e criatividade” e por isso algumas profissões têm maiores chances de desaparecer.
O problema da matéria, em relação aos bibliotecários, é não ter ouvido o outro lado da história – princípio básico do bom jornalismo.
Coordenadora do curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FaBCI/FESPSP), Valéria Valls, explica a função do bibiotecário:
“O bibliotecário atua como um mediador entre a informação (que pode estar num suporte clássico como um livro ou até em fontes de informação na própria internet) e o usuário dessa informação. Costumo dizer que ele não é um mero “garçom”, que entrega o pedido, mas um “maitrê”, que deve conhecer muito bem o que é servido, o cardápio, as combinações”.
Como podemos ver, a profissão de bibliotecário vai muito além de simplesmente pegar um livro e emprestá-lo para um usuário. Só quem já ouviu falar de política de descarte e desenvolvimento de coleção pode entender que sim há futuro para os profissionais da área.